Adalberto Cristh

Desde que os designers deram seus primeiros passos no mundo não souberam mais onde parar de andar e fincar seus pés. Uma área que já nasceu abrangente, com seus primeiros desbravadores sendo arquitetos, artistas, marceneiros, tipógrafos, cientistas, engenheiros e diversos outros tipos de profissionais, até hoje levanta dúvidas sobre até onde os ramos dessa gigantesca árvore chamada design alcançam.

De acordo com Rafael Cardoso, “o design nasceu com o firme propósito de pôr ordem na bagunça do mundo industrial" (Cardoso, 2010, pg.6) e a meta de seus primeiros entusiastas “era nada menos do que reconfigurar o mundo, com conforto e bem-estar para todos" (Cardoso, 2010, pg. 6). Um objetivo um tanto quanto ousado para uma área que acabara de nascer e mal possuía uma definição para si própria, mas que não intimidou aqueles que embarcaram nessa jornada, pelo contrário, os estimulou a ir cada vez mais fundo nisso, explorando ainda mais novas áreas, criando novos objetos, novas formas, novas funcionalidades, tentando, através de sua forma peculiar de enxergar as coisas, salvar o mundo. Mas como poderiam? De que forma um designer conseguiria fazer isso? E será que realmente deveria ser esse o objetivo dos designers?

Foto de Karol D: https://www.pexels.com/pt-br/foto/close-up-de-um-teleferico-323645/

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Uma pergunta bastante repetida dentro da universidade é o famoso dilema de “o que é design?”, estimulando os alunos a pensarem diferentes conceitos para essa palavra. Existem algumas respostas bem comuns para essa questão, como “design é projeto”, “design é metodologia”, “design é estética”, porém existe uma resposta em questão que costuma ser comum nas mentes dos novos designers (e até de alguns mais antigos também) de que “design é resolver problemas”. Essa é uma definição bastante abrangente. Apesar de não estar necessariamente errada, ela deixa margem para interpretações bastante perigosas, afinal, que tipo de problemas são esses?

Vemos hoje diversos tipos de design estabelecidos no mercado, como design gráfico, design de produto, UX design, motion design. Alguns novos que vem ganhando seu espaço nas últimas décadas mas que ainda levantam algumas dúvidas sobre como e o que são, como o design de serviços, e até alguns que duvidamos se realmente deveriam estar utilizando a nomenclatura de design, como design de sobrancelhas, design de unhas, cake design e etc. Essas novas áreas do design e esse desejo de resolver todos os problemas possíveis fazem com que o designer tente se enveredar por todo tipo de caminhos, colocando o dedo muitas vezes onde não deveria estar, assumindo responsabilidades que não são suas, não simplesmente no sentido de estar colocando muito peso em si mesmo, mas no sentido de querer resolver coisas as quais não têm o conhecimento, expertise nem a competência necessária para tal. Isso é um problema possível de ser visto na própria universidade em um curso de design generalista, onde muitas vezes é exigido do aluno criar um objeto para uma área que ele não tem a menor competência para atuar, não tendo também tempo o suficiente para estudar sobre essa nova área e criando coisas que ele acredita que funcionariam mas que nunca vai poder ter certeza pois é um projeto que vai ficar apenas ali na universidade. Então o jovem designer se forma acreditando que tem a competência para atuar naquela área também, afinal ele mesmo já projetou algo assim antes, mas indo trabalhar descobre que não sabe nada do que realmente deveria e que suas soluções podem inclusive estar trazendo risco para outras pessoas por não ter o conhecimento que ele deveria para fazê-las de maneira adequada. E isso sem mencionar o fato de que muitas vezes o designer se considera o mais apto até mesmo para assumir cargos administrativos e de gestão por acreditar que sabendo gerir um projeto, ser criativo e saber como “resolver problemas” ele pode facilmente assumir essas responsabilidades, mesmo que não conheça nada sobre funções de administração ou algo do tipo.

Foto de Tranmautritam: https://www.pexels.com/pt-br/foto/dois-imac-s-com-teclado-e-telefones-na-mesa-326503/

Foto de Tranmautritam: https://www.pexels.com/pt-br/foto/dois-imac-s-com-teclado-e-telefones-na-mesa-326503/

Foto de cottonbro studio: https://www.pexels.com/pt-br/foto/maos-mao-colorida-cheio-de-cor-3997390/

Foto de cottonbro studio: https://www.pexels.com/pt-br/foto/maos-mao-colorida-cheio-de-cor-3997390/

A ideia de se refletir sobre esse assunto não é para querer intimidar o designer e fazê-lo largar mão de explorar novas áreas, mas para alertá-los de quem nem tudo é sua responsabilidade nem está sob sua competência.”Não é responsabilidade dos designers salvar o mundo, como clamavam as vozes proféticas dos anos 1960 e 1970” (Cardoso, 2010, pg. 19), e é importante saber disso pois essa sede de ser a solução para todos os problemas cria uma ansiedade geral na figura do designer, que se sente responsável por resolver tudo, responsável por salvar o mundo, o que acaba por não ser necessário, afinal de contas “ninguém sabe exatamente o que quer dizer “salvar o mundo” hoje em dia” (Cardoso, 2010, pg. 19).

Referências:

CARDOSO, Rafael. Design para um Mundo Complexo. São Paulo: Cosac Naify, 2012.

Ficha Técnica:

Texto desenvolvido por Adalberto Cristh para a disciplina Teoria do Design - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Design - 2024. O texto colabora como projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design”, coordenado pelo Prof. Rodrigo Boufleur (http://estudossobredesign.blogspot.com).